Camp Counselor Program e o clichê nosso de cada ano

*Por Thiago Monteiro
Sempre soa clichê dizer que Y divide a vida em antes e depois dela. Sendo assim, se você estiver de saco cheio de clichês, você acaba de ganhar alguns minutinhos pra gastar no Youtube. Recomendo algum viral novo humilhante. Mas se o clichê não te incomodar, abunde-se: a bunda é sua, e corra os olhos no que me foi pedido pra escrever. Ah, se quiser por para tocar no Youtube “I am the morning” do The Oceansize… vai trazer uma vibe boa pro texto… pra mim trouxe na hora de escrever… (Play)
O descobrimento:
Viajar tem suas vantagens. Mas o impacto da Y transcende essa viagem; a GT não é só uma empresa de turismo, é uma indústria de humanização. É… a cada ano que passa fica mais longe! Caramba, já tem mais de 5 anos agora! Eu era mais magro, menos careca e igualmente pobre (saco viu!), e hoje – depois d’algumas observações – posso sim dizer que estava num determinado grau de depressão no último ano de faculdade.
Era agosto de 2010, e o bandex da UFMG tinha servido suco de guaraná e steak de frango naquele almoço. Encontrei sozinha uma vizinha, com quem já tinha trabalhado junto no grupo de jovens do bairro. Eu sabia que ela tinha acabado de voltar de viagem (e ainda tava meio gordinha pra comprovar) e eu também estava sozinho aquele dia. Sentei junto a ela pra comer – sua alcunha até então era Priscilinha, mas na Y era Pricas – e ela não parava de falar de como tudo era bom. Mas não falou muita coisa… nada de muito detalhe… nem spoilers… só me disse que eu deveria ir na entrevista.
Entrevista?
No dia da entrevista, tinha um sol que me convidava a ficar em casa em frente a TV, mas por alguma razão fui na entrevista. Cheguei atrasado propositalmente – porque é chique chegar atrasadinho, né – mas, sobretudo porque não queria ver gente. Imaginei que chegando mais no meio do horário encontraria menos homo sapiens. Como disse, não estava “bem” no mundo. Não me encontrava. E uma das coisas que eu tinha certeza era que queria ficar a maior parte do tempo sozinho. Mas isso não é da conta de vocês, não é mesmo? Voltemos.
Mesmo atrasado, lá tinha gente pra dedéu (Não me julguem, gírias idosas são geniais! E hoje em dia é até Hipster). Não era entrevista no dia! Era tipo uma prévia do que seria o treinamento… open house, meio que um meeting demonstrativo… achei tudo um saco. Nesse ovo belorizontino, encontrei coleguinhas lá (que viajaram no ano de 2010 e outros que como eu pretendiam viajar – porque sim, quando a gente procura a Y o que a gente quer é viajar, certo?).
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Encontrar gente conhecida naquele Open House foi broxante. Me expunha de certa forma, mostrava pra outras pessoas que eu tinha planos que eu não queria que soubessem, daria margem a falações e um tanto de loucura na cabeça de alguém que só queria ser invisível – e por isso queria sair do país. Acabou que mesmo sem ter gostado do Open House, acabei marcando de ir à entrevista e lá por acaso encontrei um grande amigo Flávio, (que nem chegou a terminar a primeira etapa, desistiu antes, mas cuja namorada, Nanda Cursino matou a pau) que me convenceu de que seria bom eu tentar. Da entrevista, fomos pra um churrasco e, com muito lúpulo no sangue, decidi que se rolasse um co-“paitrocínio” faria esse trem de “sissipí”. Rolou.
E rolou aquele clima…
No terceiro Meeting eu já estava apaixonado pelo programa. Tudo que achei besta no início, senti que mudava pra totalmente indescritível e incrível. Eu estava sim perdido nesse mundão. Encontrei-me na Y. Em 3 meses de etapa eu fiz mais amigos (e conheci pessoas que viraram amigos um pouco depois ) que nos 5 anos de faculdade. E essas amizades ainda perduram! As pessoas de meu convívio social hoje ainda são formadas em sua grande maioria por integrantes e ex-integrantes da Y.
O treinamento foi a coisa mais impactante na minha vida. Tudo era muito autêntico. Os feedbacks eram precisos, os conselhos e sorrisos reais, as interações eram humanas. Sentia-me respeitado, enquanto indivíduo e enquanto candidato que concorria a uma vaga de emprego noutro país. Nunca mais passei por um processo seletivo e eliminatório tão prazeroso a ponto de esquecer-me que poderia sair. E mais: acho que se eu tivesse sido eliminado, não teria deixado de admirar todo o aprendizado que carrego comigo (ia ficar chateado, claro, mas não desperdiçaria toda a gama que acumulei).
Uma das coisas que mais aprendi foi: eu consigo! Ou: não sei se consigo, mas posso tentar! Ou ainda: eu consigo, mas preciso de ajuda… você me ajuda?! Seja “concorrente” ou seja counselor. Ah, uma pausa pra falar deles: meus counselors eram pessoas em quem eu aprendi a confiar cegamente! Acho que todos imaginamos que nunca haverá counselors tão bons quanto os nossos. Eu pelo menos acho que nunca fui um counselor tao bom quanto os que tanto me ensinaram. Sempre que cruzo com um deles na rua ou no Facebook, minha veneração aflora. Eu ainda os admiro de forma quase que na idolatria – não que eles se mostrassem como idolos… na verdade, a relação com eles era bastante horizontal.
Viajar é preciso
Passado todo o processo (mais rápido do que imaginei) fui alocado num overnight camp dos sonhos em 2011! Greenville ainda ocupa um espaço enorme em meu coração. Vez ou outra, volto a olhar fotos de lá e toda a paz volta! Que camp lindo! Que diretor sensacional! Que irmão eu ganhei! Fui muitíssimo bem alocado pelos meus counselors. Sou grato a eles por me mandarem praquela atmosfera ímpar com o irmão que eu precisava.
Voltei ao Brasil, virei counselor. Conheci o outro lado. Minha paixão pelo programa não diminuiu em nada. Minha admiração pelo programa só aumentou. Ver novos seres humanos progredirem e ajudar a maioria deles a tornarem-se camp counselors me emocionava. Quantos novos amigos eu fiz naquele ano. E não é que rolou de ir de novo em 2012? Novo overnight, no Texas. Frontier Camp, unidade de adolescentes de Camp Grady Spruce. Jamais me esqueço dos meus campers do Frontier. Chorei todos os sábados ao me despedir deles. Os campers de lá são únicos. Meus Hermanos mexicanos eram sensacionais!!! Meus Brothers que foram comigo eram muito parceiros! Ombros amigos para qualquer hora: na saúde e na doença, na zuera e raivesa, nas muitas risadas e nas poucas lágrimas.
Counselor, again
Volta ao Brasil. Volta à vida de counselor. Vem convite pra viajar de novo em 2013. Dessa vez não rola. Trabalhar na terra brasilis é necessário. Bate também aquela vontade de fazer outras coisas: é hora de sair do grupo de counselors. Mas sair da Y não indica que Y sai da gente. Acabei pedindo novo asilo um ano depois, lá pra setembro de 2014: Manu, posso voltar a ser counselor? Depois de muitas lutas e provas de fogo que deixariam BBB e largados e pelados na chinela havaiana azul com preguinho remendando a correia arrebentada, fui readmitido.
Foi um ano maravilhoso! Gente nova, novas ideias, galera com muita energia. E sem planejamento nenhum da minha parte: quer viajar de novo? Bem… dessa vez um Day Camp! Tantas cabeças boquiabertas me olharam na hora em que eu anunciava isso. Eu me surpreendia a mim mesmo! Motivos? Não tenho paciência pra criança, não tinha muito saco pra brincadeira mais paradona, e morar em casa de pessoas que nunca vi? Tudo isso me incomodava.
Eu sou overnight mesmo!!! Adoro um mato, uma certa independência que eu perderia na casa de estranhos, atividades mais legais que um simples pega-pega bestôncio… Me sinto muito a vontade em atividades outdoor, e overnight camp é definitivamente minha onda. E toda essa minha resistência ao day camp (que tinha desde os meus tempos de candidato) e devoção ao overnight era um motivo a mais pra eu querer fazer um Day camp. Afinal, já tinha ido a dois overnights pedreiras e já não haveria tanta novidade assim ir a um terceiro.
Hora de expandir a zona de conforto com atividades menos previsíveis e fazer algo mais light – porque, claro, ouvi muito “daycamp é estar de férias”. Então ótimo! Já trabalhei muito nos overnight, e agora que to velho é hora de curtir minha aposentadoria num spa em… Oklahoma? Sério, nessa roça? Ai Manu… assim cê me ferra com meus planos. Ok! Confiança nos counselors funcionou, lembra? Vamos lá.
Day Camp in Oklahoma
E lá foi esse ser que vos escreve pra Day Camp Earlywine em Oklahoma, em 2015. E claro, a soberba bate: ah, sou cara exxxxperto, já é minha terceira vez, to acostumado, já sei o que vou fazer, tô de boa. Cheguei lá e vi que era tudo novo! Tudo mesmo! Nada me lembrava os overnights. Desci do trono e comecei a observar. Tomei na tarraqueta. Trabalhei igual um louco! Isso era ruim? Claro que não! Mas a visão de day camp boa vida é extremamente deturpada!
Nós, brazilian counselors, somos realmente muito mais capacitados – e agora não é soberba! Nunca me achei um counselor muito bom, mas quando via o background que tinha de brincadeiras, dinâmicas, songs e skits, minha coordenadora (que é mais nova que eu) me falava: Till, dá o jogo hoje! (ok era a função dela, mas se eu não fizesse algo pra entretê-los, eles achariam algo pra se entreter – como por exemplo, esgrima com tacos de sinuca [sim, isso aconteceu] – e isso me traria muito mais trabalho… ela não tinha um treino como eu, Y is also caring, remember?).
Nas 2 ultimas semanas não era oficializado, mas eu virei coordenador do day camp: era eu quem estabelecia todas as atividades, os horários, quem apartava brigas, quem dava funções pros outros counselors. Pra quem esperava passar férias no spa, eu trabalhei bem mais que num overnight. Foi sensacional! Meus preconceitos com day camp caíram por terra, e descobri uma faceta minha que não conhecia. Overnight ou daycamp, eh detalhe: ser camp counselor é você.
Sobre minhas hosts families vou reservar o direito de permanecer calado, pois é muito particular essa experiência. Mas digo uma coisa: meu amor pela dantes chamada roça de Oklahoma é tão grande quanto minha obsessão por vinis do Aerosmith (e cara, cê não tem noção de como minha obsessão por vinis funciona). Nunca foi tão difícil voltar para o Brasil como dessa vez. E nunca fiquei tão à vontade e livre na casa de (não mais) estranhos. Não há um dia em que eu não pense neles.
And it never ends…
Agora estou aposentado da Y. Ou será mais um período de férias. Who knows? Só sei que meu emprego mudou por conta da Y, minha autoestima também, meu parâmetro de julgamento (e sobretudo não-julgamento), minhas relações interpessoais, minha cara-de-pauzisse então! Foi um prazer conhecê-los, prezados leitores. A musica já acabou ne… mas espero que você tenha feito uma playlist legal aí.
Esse é um pequeno (pequeno mesmo, tipo iceberg) da minha vida pós Y. Não acho que o meu Antigo Testamento seja tão melhor, mesmo porque gosto mais do que veio agora. Procurei a Y porque queria viajar, mas minha procura pela Y resultou em encontrar a mim mesmo. E encontro-me diariamente enquanto sigo sei lá pra onde. Segue a vida, e a Y te segue.
*Thiago Monteiro é Biólogo e professor de inglês, viajou três vezes aos Estados Unidos pelo YCCP com a Globe Trotter e foi parte do Staff da empresa no Brasil.
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Blog #GenteQueViaja – Produção e Edição: Milson Veloso – Jornalista, especialista em Comunicação Digital e viajante